O Estado de S.Paulo
A Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel)
autorizou a criação de operadoras virtuais de telefonia móvel, abrindo
espaço para o aumento da competição num segmento caracterizado por
tarifas extremamente elevadas. Em estudos no Brasil desde 2008, a
regulamentação da atividade das operadoras virtuais foi bem-sucedida em
países desenvolvidos.
No mês passado, o número de linhas de telefones celulares existentes
no Brasil atingiu 194,4 milhões, superior à população brasileira. Em
Brasília, por exemplo, já há 170 celulares por 100 habitantes, uma das
maiores densidades de telefonia móvel no mundo. A permissão para o
ingresso das operadoras virtuais é um passo adiante no processo de
abertura das telecomunicações iniciado no governo FHC.
Foram criadas as figuras das operadoras virtuais credenciadas (por
concessionárias de telefonia móvel), que serão uma espécie de
representantes comerciais das companhias de telefonia, e daquelas que
operarão em nome próprio, por meio do compartilhamento das redes atuais.
A operadora virtual que fechar contrato com uma concessionária móvel
não poderá, simultaneamente, fazer contrato semelhante com outra
concessionária.
Também será permitido às empresas que já atuam no setor de
telecomunicações pedirem autorização à Anatel para alugar a rede de
outra operadora - desta forma, as companhias de telefonia fixa poderão
ingressar na telefonia móvel. Até as prestadoras de serviços de
telefonia móvel poderão obter o direito de uso de redes localizadas em
áreas onde ainda não têm a outorga do serviço.
Bancos, redes varejistas e até times de futebol poderão se habilitar
como operadores virtuais, como já ocorre no exterior, onde o serviço é
conhecido como Mobile Virtual Network Operation (MVNO). Em países como
os Estados Unidos ou a Suécia, essa modalidade de abertura foi muito
benéfica para os clientes.
Mas, além de bancos e varejistas, outras empresas que dispõem de
capacidade tecnológica, mas não de um grande capital, puderam comprar
lotes de minutos das concessionárias, revendendo-os a clientes que
adquirem cartões de telefonia em farmácias, supermercados e outros
locais.
Como a operadora virtual opera no atacado, adquirindo os minutos a
preços muito inferiores aos cobrados pelas concessionárias dos clientes
que atendem no varejo - e que costumam fazer economia para evitar o
custo elevado das contas telefônicas -, as possibilidades de competição
são enormes.
Graças às operações no atacado, a compra de cartões telefônicos no
exterior, para uso nas redes de telefonia fixa no exterior, já propicia
enorme economia a brasileiros que viajam, por exemplo, para os Estados
Unidos, a Europa ou a Argentina. Se comparado o custo de uma ligação
fixa com outra ligação, pelo celular, a tarifa poderá ser inferior a 1%
do custo da ligação sem o uso do cartão telefônico.
No Brasil, as facilidades estarão limitadas à telefonia móvel. É
provável que só no futuro haja regras semelhantes na telefonia fixa,
cujas concessionárias pagaram enormes somas ao governo brasileiro pela
concessão das áreas e fizeram contratos de exclusividade de longo prazo.
Grandes bancos, como o Itaú-Unibanco, o Bradesco e o Banco do Brasil,
já estariam estruturados para ingressar no setor. O Santander tem
experiência como operador virtual na Espanha, com o serviço Habla Facil.
Não houve manifestação das concessionárias de telefonia móvel, que
terão a possibilidade de aumentar seu faturamento.
As operadoras virtuais, avalia a Anatel, deverão começar a atuar em
dois a três meses. Na medida em que forem concluídos os acordos entre as
operadoras virtuais e as concessionárias, ocorrerá a ampliação
substancial dos serviços de telefonia móvel, com a oferta de pacotes de
produtos e serviços por empresas interessadas em atrair clientes.
Do ponto de vista público, o que conta é a possibilidade de uma
redução substancial dos custos da telefonia, que já é registrada em
países que estimularam a competição.
Nenhum comentário:
Postar um comentário