O executivo italiano Luca Luciani recuperou a operadora de telefonia TIM no Brasil. Como prêmio, deve assumir a operação da Telecom Italia na América Latina. Mas uma antiga investigação na Itália volta a incomodá-lo.
Por Ralphe Manzoni Jr.
Quando o executivo italiano Luca Luciani, 43 anos, chegou ao Brasil para comandar a empresa de telefonia celular TIM, em janeiro de 2009, ele encontrou uma companhia combalida, que perdia mercado para os seus rivais.
Em 2008, a Claro, que pertence a América Móvil, do bilionário
mexicano Carlos Slim, havia assumido o segundo lugar no mercado
brasileiro, posto que fora ocupado pela operadora por 12 anos. No
entanto, apenas dois anos depois, a TIM Brasil conseguiu virar o jogo.
No ano passado, ela conquistou 9,9 milhões de clientes, superando
Vivo, Claro e Oi, suas três principais concorrentes. Seu lucro de R$ 2,2
bilhões foi recorde e representou um crescimento de 171%. E, mantida
essa taxa de crescimento, deve ultrapassar a Claro em números de assinantes, retomando a vice-liderança nos próximos meses.
Os bons resultados renderam a Luciani a indicação para assumir o
comando da Telecom Italia, que controla a TIM Brasil, na América Latina.
Seria um motivo e tanto para comemoração, não fosse por um detalhe:
na semana em que recebeu a notícia de que deve ser promovido (a decisão
acontece no dia 12 de abril, em reunião do conselho de administração da
Telecom Italia, em Milão), Luciani também ficou sabendo que um antigo
processo por fraude, falso testemunho e por obstruir as autoridades em
uma longa apuração sobre falsos cartões SIM (os chips dos celulares)
voltava à tona, de acordo com informações o jornal inglês Financial
Times e da mídia italiana. A TIM Brasil não comenta as supostas
investigações.
Trata-se de um golpe para o executivo que vive um de seus
principais momentos na carreira. Ao assumir a América Latina, que
inclui, além do Brasil, a Argentina, Luciani se transforma no número 3
na hierarquia da Telecom Italia. Em uma reestruturação, que será também
confirmada em abril, Francesco Bernabè, que era CEO desde 2007, passará
para o cargo de chairman do grupo.
Marco Patuano, que gerencia a operação da Itália, assume como novo
executivo-chefe. As mudanças ocorrem em razão das frustrações dos
investidores com o mercado italiano, o principal da Telecom Italia,
cujas receitas caíram 7,4% no exercício fiscal de 2010, para E 20
bilhões.
É um cenário bem diferente do encontrado atualmente na operação
brasileira. No ano passado, a receita líquida cresceu 5,2%, chegando a
R$ 14,4 bilhões e o número de clientes atingiu 51 milhões no País.
O desempenho da filial brasileira deve-se a uma arrojada e ousada estratégia traçada por Luciani. A
TIM optou por crescer em celulares pré-pagos, que não contam com os
subsídios oferecidos aos clientes de equipamentos pós-pagos. Ao
contrário de Vivo e Claro, que investiam na tecnologia 3G, a operadora
italiana reforçou seus gastos em infraestrutura de voz, para melhorar a
qualidade de sua rede.
Em 2009, dos R$ 2,1 bilhões investidos, boa parte dele foi para a
rede 2G (voz). “A TIM investiu, nos últimos dois anos, na melhoria da
qualidade do seu serviço”, diz Luis Fernando Azevedo, analista de
telecomunicações da Bradesco Corretora.
Simultaneamente, a empresa reformulou seus planos de cobrança,
simplificando-os. Em vez de cobrar por minutos, passou a tarifar por
chamadas. Se a ligação é entre celulares da própria TIM, uma chamada de 1
minuto ou uma hora sai por R$ 0,25.
“A compra da Intelig deu a ela as condições de praticar essas
ofertas e de competir com as outras operadoras”, afirma o ex-ministro
das Comunicações e sócio da Orion Consultores, Juarez Quadros. Em dois
anos, o uso da rede da TIM praticamente duplicou.
Em janeiro de 2009, quando Luciani assumiu a operação local, cada
consumidor falava 70 minutos, por mês. Em dezembro de 2010, essa média
havia subido para 130 minutos. “O brasileiro fala muito pouco ao
celular”, afirma Rogerio Takayanagi, diretor de marketing da TIM. “Há
uma demanda reprimida muito grande.” O desafio da TIM, agora, é manter
esse crescimento e investir em novas frentes.
Ascensão: Francesco Bernabè (acima) deixará o cargo de CEO para
ser o chairman da Telecom Italia. Marco Patuano vai assumir sua função
ser o chairman da Telecom Italia. Marco Patuano vai assumir sua função
Uma delas é a da banda larga móvel, com a tecnologia 3G. Hoje, a
empresa está presente em 229 municípios, com uma cobertura de 54% da
população urbana. A receita para crescer nessa área é semelhante à
utilizada em voz: um valor fixo de R$ 0,50 para acessar a internet de
forma ilimitada pelo celular. Lançado no final do ano passado, essa
modalidade já atingiu 1 milhão de usuá- rios únicos por dia.
A empresa terá de reverter a queda no valor médio que cada cliente
lhe paga, fruto da estratégia de incentivar clientes no pré-pago. Em
2008, o chamado tíquete médio era de R$ 29,9, o maior do mercado
brasileiro. No ano passado, caiu para R$ 23,7. Ainda assim, a TIM tem
uma receita média por usuário maior do que a Oi (R$ 22,6) e a Claro (R$
18). Está atrás apenas da Vivo (R$ 25,2).
Outra fragilidade da TIM, de Luciani, é que ela é a única
do mercado entre as empresas móveis que não conta com uma operação de
telefonia fixa. A Vivo, por exemplo, uniu-se, no ano passado à
Telefônica. A Claro prepara uma fusão com a Embratel e com a NET, ambas
controladas pelo mexicano Slim. A brasileira Oi foi a primeira a
integrar os seus negócios.
As três operadoras são capazes de oferecer pacotes convergentes,
que reúnem telefonia fixa e móvel, banda larga e tevê por assinatura,
considerada uma tendência no mercado brasileiro e mundial. A compra da
Intelig pela TIM, concluída no final de 2009, supre essa necessidade no
mercado corporativo. Mas a companhia não tem planos para este tipo de
oferta para o consumidor final.
“No Brasil, a tendência é a substituição do telefone fixo pelo
móvel, pois é mais barato”, diz Takayanagi. “A TIM não tem problema em
incentivar isso, pois é a única empresa exclusivamente móvel.”
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