As operadoras de telefonia móvel deverão antecipar investimentos dos próximos anos para 2012 como forma de atender as exigências da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) para melhorar a qualidade, seguindo o que já anunciou a TIM.
Para os analistas do Citi Alexandre Garcia e Marcelo Inoue, antecipar os investimentos, sem modificar o valor final do capex previsto e o fluxo de caixa, deve ser a solução preferida das companhias para atender as exigências do regulador sem comprometer sua posição financeira.
"As companhias poderiam antecipar investimentos de 2013 para 2012, com um impacto mínimo no fluxo de caixa disponível (FCD)", disseram em relatório.
Na terça-feira, a TIM informou que dobrou para 451 milhões de reais a fatia do seu orçamento destinada para melhora de qualidade. Os recursos, que seriam aplicados até 2014, vão ser injetados já em 2012, por meio de realocação dos investimentos..
A decisão é uma alternativa para um possível aumento nos investimentos já previstos que poderia elevar a dívida e até mesmo prejudicar o pagamento de dividendos dessas empresas.
"Pela nossa sondagem, já consideramos os investimentos dessas empresas bem elevados em relação às suas receitas. Então não vemos espaço para aumento", disse Gustavo Pereira Serra, analista na Planner Corretora.
A TIM prevê investir 3 bilhões de reais neste ano, enquanto a Oi prevê 6 bilhões de reais, e a Claro estima investimentos em "ações de melhoria" no total de 3,5 bilhões de reais.
Com a mudança no cronograma de investimentos, as operadoras esperam reverter a decisão da Anatel, que na semana passada aplicou um pacote de sanções e exigências contra operadoras de telefonia móvel, em meio a crescentes reclamações sobre a má qualidade do serviço prestado a clientes.
Desde a véspera, a TIM teve as vendas proibidas em 18 Estados e no Distrito Federal, a Oi está suspensa em outros cinco; e a Claro, em três. Vivo, Sercomtel e CTBC escaparam da suspensão mas, também têm 30 dias para apresentar um plano de investimentos, senão poderão enfrentar o mesmo tipo de sanção
Impacto
O presidente da consutoria Teleco, Eduardo Tude, não vê um forte impacto da proibição de vendas nos resultados das companhias. No entanto, por mais que se esforcem, ela não vão conseguir evitar totalmente os estragos.
"A proibição não afeta diretamente a receita porque as empresas vão continuar prestando serviço para a suas bases", disse.
"O mais difícil de mensurar são as perdas com as novas adições e o impacto negativo na imagem", afirmou Serra, da Planner.
De acordo com o ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, a suspensão das vendas deve durar o mínimo possível, sendo 15 dias um prazo razoável para sua resolução.
Os analistas do Citi acreditam em uma solução rápida. "Esse parece ser um fator de curto prazo", disseram.
"Estimamos que uma suspensão de um mês impediria a TIM, a Oi e a Claro de obter 400 mil, 70 mil e 180 mil clientes, respectivamente. Esses números representam em média 57 por cento, 15 por cento e 32 por cento dos novos clientes obtidos pelas empresas em abril e maio, mas apenas 0,5 por cento, 0,1 por cento e 0,3 por cento da base de clientes das mesmas, respectivamente", avaliaram.
Nessa linha, considerando a suspensão por um mês, Oi e Claro perderiam menos de 1 por cento dos novos usuários, com impacto limitado na receita e no Ebitda (sigla em inglês para lucro antes dos juros, impostos, depreciação e amortização), calculam os analistas do Bank of America Merrill Lynch.
"Se considerarmos que a Vivo ganharia metade dos assinantes em potencial perdidos por TIM, Vivo e Oi, estimamos que estes assinantes adicionais contribuiriam para 1 por cento da receita consolidada da Vivo e 2 por cento do Ebitda", disseram Mauricio Fernandes e Rodrigo Villanueva, em relatório.
Mas o episódio pode interromper uma trajetória de destaque da TIM, que teve um rápido crescimento da sua base nos últimos anos, ultrapassando a Claro em participação de mercado, ao mesmo tempo que manteve seus investimentos estáveis, planejando para 2012 a mesma quantia anunciada em 2011.
"Talvez agora as operadoras não devam crescer tanto a base em descompasso com investimentos", disse Serra, analista da Planner.
Por Juliana Schincariol e Roberta Vilas Boas
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