Agência Estado
A possibilidade de criação de uma estatal para
operar os serviços de banda larga e a comparação que o governo vem
fazendo deste projeto com o programa Luz Para Todos, de universalização
do fornecimento de energia elétrica, têm provocado críticas de empresas
de telefonia, de especialistas do setor e de parlamentares da oposição.
Os críticos entendem que, para expandir os serviços de internet rápida
no Brasil não é preciso a volta do Estado ao setor, mas a construção de
um programa, em parceria com a iniciativa privada - como foi feito no
setor elétrico - no qual realmente seja usado o dinheiro de fundos
setoriais de telecomunicações.Os cenários técnicos que estão sendo apresentados
hoje ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em reunião iniciada há
pouco, preveem investimentos de até R$ 14 bilhões, nos próximos quatro
anos, para criar a estatal da banda larga, a partir da revitalização da
Telebrás. A fonte dos recursos ainda não foi detalhada, mas os estudos
apontam para financiamentos pelo Banco Nacional de Desenvolvimento
Econômico e Social (BNDES), ainda que o governo disponha de fundos
setoriais retidos no Tesouro Nacional.
Só no ano passado foram
recolhidos pelas empresas cerca de R$ 5 bilhões para o Fundo de
Universalização dos Serviços de Telecomunicações (Fust) e para o Fundo
de Fiscalização das Telecomunicações (Fistel). Desse total, menos de
10% foram repassados à Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel)
para a fiscalização das empresas. Desde 2001, o Fust já arrecadou R$ 8
bilhões, que não foram aplicados em nenhum projeto.
No programa
Luz Para Todos, que tem meta de levar energia a 15 milhões de pessoas
carentes, o governo investirá R$ 14,3 bilhões em recursos de dois
fundos setoriais - a Conta de Desenvolvimento Energético (DCE) e a
Reserva Global de Reversão (RGR) - formados por cerca de 3,5% da tarifa
de energia paga pelo consumidor. Outros R$ 5,7 bilhões restantes vêm de
governos estatuais e das próprias distribuidoras.
Segundo o
Ministério de Minas e Energia, o Luz para Todos já beneficiou 11,1
milhões de pessoas desde 2004 e, neste ano, serão atendidas mais 3,9
milhões de pessoas. Ao todo, foram feitas 2,2 milhões de ligações, o
que exigiu a instalação de 5,6 milhões de postes, 824 mil
transformadores e 1 milhão de quilômetros de cabos elétricos.
Para
implantar o programa de energia, o governo não precisou criar uma
infraestrutura adicional, como pretende fazer com a banda larga. A
estatal Eletrobrás não opera os serviços, tem apenas a atribuição de
administrar o dinheiro e repassá-lo, por meio de contratos, às
distribuidoras de energia (a maioria empresas privadas), que fazem as
ligações.
"O dinheiro do Luz para Todos não é do governo, é da
sociedade, pago na tarifa de energia e as distribuidoras é que levam a
energia até a casa do cidadão", observou o presidente da Associação
Brasileira dos Serviços de Telecomunicações (Abrafix), José Fernandes
Pauletti.
Na banda larga, sugere Pauletti, os recursos dos
fundos poderiam ir diretamente para o consumidor, sem a necessidade de
passar pelas empresas. "Se criar a demanda, a iniciativa privada
atenderá", afirmou ele, avaliando que o aumento do mercado contribui
para a redução do preço dos serviços. "O que não dá é para as empresas
fazerem um investimento pesado em redes e não ter ninguém para comprar
os serviços."
Além de ser citado usualmente por assessores do
governo, o programa Luz para Todos foi usado como exemplo pelo próprio
presidente Lula, durante reunião na semana passada com representantes
da sociedade civil. "O presidente comparou o PNBL (Plano Nacional de
Banda Larga) com o Luz para Todos. O Estado oferecendo ao cidadão
acesso a serviços básicos", escreveu o ministro do Planejamento, Paulo
Bernardo, em sua página no Twitter. As declarações do ministro no
Twitter foram confirmadas por sua assessoria.
A comparação é
equivocada na opinião do presidente da Comissão de Ciência e Tecnologia
da Câmara, deputado Eduardo Gomes (PSDB-TO). "O governo tem a
capacidade de misturar as coisas para justificar o que não tem
justificativa", afirmou. Ele lembra que o projeto que libera a
utilização do Fust na banda larga está pronto para ser votado desde o
ano passado, mas não é incluído na pauta do plenário por falta de
vontade política do governo, que tem maioria no Congresso. "Esses
fundos foram totalmente contingenciados para cumprir meta de
superávit", acrescentou. Para ele, a revitalização da Telebrás em um
ano de eleições servirá apenas para um "loteamento político de cargos".
Gomes acredita que se o governo promovesse uma desoneração tributária
no setor teria uma "resposta rápida" das empresas privadas na expansão
do atendimento.
O ex-ministro das Comunicações, Juarez Quadros,
também avalia que não é preciso criar uma estrutura estatal para
universalizar os serviços. "No setor elétrico, são as distribuidoras
que aplicam os recursos e a universalização já chegou a 98% da
população", afirmou.
Para o senador Flexa Ribeiro (PSDB-PA), é
"delírio" achar que a reativação da Telebrás é suficiente para
massificar a banda larga. Ele apresentou um projeto de lei para
unificar os recursos dos fundos setoriais e obrigar o governo a
investir esse dinheiro em programas do setor. "Serão 3 bilhões por
ano", disse o senador.
Fonte: http://ultimosegundo.ig.com.br/economia/2010/02/10/comparacao+de+programas+de+banda+larga+e+luz+ptodos+provoca+criticas+9394273.html
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