SÃO PAULO - Mesmo com a previsão de que a
obrigatoriedade do desbloqueio de celulares chegue a inibir o avanço das
classes C e D na telefonia móvel, fabricantes chineses como Huawei e
ZTE podem trazer ao mercado alternativas mais baratas. A decisão da
Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), que estabelece que o
desbloqueio dos aparelhos celulares pode ser feito a qualquer momento do
contrato e sem ônus ao cliente, deve aumentar o preço dos aparelhos,
segundo João Paulo Bruder, analista do International Data Corporation
(IDC), uma vez que as operadoras devem reduzir os subsídios que
ofereciam a aparelhos que atrelassem o cliente à empresa. Na outra
ponta, o número de chips (SIM card) vendidos deve
crescer à medida que os clientes vejam vantagem em ser clientes de mais
de uma operadora.
Já entre as operadoras, a tendência é de que
Vivo, TIM, Claro e Oi deem início a uma guerra de preços e promoções a
fim de abraçar o novo contingente de clientes compartilhados.
Do
lado das fabricantes, o histórico de trazer ao mercado brasileiro aparelhos a
preços mais baratos fez das competidoras chinesas Huawei e ZTE os
players mais agressivos do mercado. Mesmo ainda sem fabricação local dos
aparelhos, a tendência é de que importem mais terminais para atender a
demanda das classes C e D.
Luís Fonseca, diretor de Terminais da
Huawei, afirma que dentre os cinco modelos novos que a companhia deve
trazer ao Brasil este ano, ao menos um deve ter como foco as classes C e
D. "Vamos lançar este ano, no mercado desbloqueado, um aparelho
touchscreen [com tela sensível a toque] que poderia ser destinado ao
público C e D."
O executivo pondera que "atingir essas classes
depende muito do pacote que a operadora vai lançar". O executivo
acredita numa participação expressiva da empresa no mercado brasileiro
em 2010 e tem perspectivas de fabricação no País tão logo a demanda
justifique a produção local.
Dessa demanda, segundo ele, depende
um passo importante para serem ainda mais competitivos. "O principal
incentivo para uma fabricação local é haver uma demanda consistente para
uma linha de produção. A partir daí podemos ser mais agressivos ainda
em preço", completa Fonseca.
Marcelo Motta, diretor de Tecnologia e Produtos da
Huawei, acredita que o avanço das telecomunicações deve vir através da
combinação de serviços de voz e dados, uma vez que estimula a venda de
aparelhos com maior valor agregado e puxa para cima o tráfego de dados
das operadoras, que é responsável pela maior rentabilidade na telefonia
móvel. "O smartphone, por exemplo, vai ser um dos responsáveis pela
universalização das telecomunicações", afirma o executivo.
A ZTE,
que investiu US$ 878,9 milhões em desenvolvimento de novos produtos no
ano passado, deve anunciar nos próximos meses seu primeiro celular com
sistema operacional Android no País. A companhia, que registrou lucro
líquido de US$ 366,2 milhões em 2009, não quis comentar sua estratégia
para celulares em função das novas regras colocadas pela Anatel.
Mais
barato
"Todo fabricante que traz produtos mais baratos encontra
uma oportunidade de atender classes subatendidas", afirma o analista
João Paulo Bruder. Segundo o ele, se a Anatel homologar os aparelhos,
certificando que podem oferecer qualidade aos usuários, eles têm chances
de ganhar mercado neste novo cenário mais competitivo.
"Isso vai
criar uma arbitragem no mercado, ou seja, se alguém fizer algum
desconto desproporcional ao valor oferecido, o mercado vai se encarregar
de corrigir esta distorção", afirma Bruder, que também aponta para o
possível aumento do número de pessoas que tenham chips (SIM card) de
mais de uma operadora. "A aplicação prática dessa medida, no curto
prazo, é que as pessoas podem começar a ter um outro chip de outra
operadora", diz Bruder. Isso porque normalmente as chamadas para
telefones de uma mesma operadora são mais baratas nos planos pré-pagos
-quando não são gratuitas-, modalidade hoje composta por 82,5% dos
celulares em circulação no País.
Na prática, segundo o analista,
com um celular desbloqueado, o cliente poderia trocar de chip para
aproveitar promoções ou descontos ao ligar para determinados números.
Bruder
pondera que o número de celulares em circulação no Brasil atualmente
não indica que as operadoras estejam exatamente em uma corrida por
ganhar mais público, uma vez que os 176,8 milhões de aparelhos em
circulação no Brasil geram uma densidade maior que 91% (9,1 celulares
para cada grupo de dez pessoas). Por outro lado, a preocupação das teles
móveis é aumentar os minutos de uso, o que lhes garantiria maior
rentabilidade.
"De certa forma inibe a entrada de classes menos
favorecidas, porque qualquer aumento de R$ 30 faz diferença", afirma o
analista. Segundo ele, para o setor, em termos gerais, o aumento não
deve ser significativo.
Fabricantes chinesas de celular como a
Huawei e a ZTE, que têm perfil de preço mais agressivo, devem se
beneficiar do cenário de aumento da demanda das classes C e D depois da
obrigatoriedade de desbloqueio de celulares aprovada pela Agência
Nacional de Telecomunicações (Anatel). Com a decisão, as operadoras
devem reduzir alguns subsídios e isso pode elevar o preço dos aparelhos,
diz o analista do IDC João Paulo Bruder. A Huawei afirma que trará este
ano um celular com tela sensível a toque desbloqueado para o público C e
D.
A venda de chips deve disparar, pois os usuários poderão ter
número de mais de uma operadora no mesmo aparelho, e a briga para
amarrar o cliente será feia entre as gigantes Vivo, Claro, TIM e Oi.
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