O colapso operacional que atinge boa parte da infraestrutura do País, incluindo portos, rodovias e aeroportos, não poupou o mercado de telecomunicações, que também acusa falta de investimentos urgentes. O agravante é que o setor não foi contemplado no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e precisa rapidamente encontrar suas próprias soluções para avançar na disponibilidade de meios físicos.
Em vias de completar a aquisição dos equipamentos de sua rede, a Telebrás, parte do Plano Nacional da Banda Larga, poderá contribuir para a regulação da oferta e dos preços de comunicação de dados no atacado. As duas iniciativas, contudo, estão apenas alinhavadas e dependem da vontade política do futuro governo em processo de eleição para seguirem adiante.
A outra possibilidade de expansão é o Plano Geral de Metas de Universalização III (PGMU III), a ser imposto pela Anatel às operadoras de telecomunicações, que poderá levar oferta de backhaul (rede de banda larga fixa) a localidades não atendidas. E também ele, e sua integração com os outros planos do Executivo, estão cercados de incertezas.
As concessionárias questionam pontos do Plano de Metas na Justiça – como a possibilidade de a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) regular os preços do backhaul – e conseguiram a extensão da consulta pública que chegou a ser encerrada no final de setembro para o início de novembro. Já defendem até que os contratos de concessão, que precisam ser fechados até 31 dezembro, sejam assinados sem o PGMU III, que ficaria para 2011.
Também não está claro se a infraestrutura do backhaul estará disponível para todos que quiserem acesso à rede. Decisão aguardada com grande interesse pelo mercado, porque o gargalo da infraestrutura atinge com mais intensidade as redes de transporte, sobretudo o segmento de transmissão, que vive uma constante corrida contra o tempo, face o exponencial crescimento do tráfego.
"Há dois anos, a capacidade das estações radiobase variava entre 4 e 8 Mbps; hoje, está na casa de 45 Mbps a 50 Mbps; e, em breve, vai chegar a 100 Mbps”, prevê o presidente da Nera, especializada em equipamentos de rádio para transmissão, Eduardo Fadanelli. Segundo o diretor de tecnologia para a América Latina da Nokia Siemens, Wilson Cardoso, o tráfego de dados das redes móveis cresceu 300% ao ano, nos últimos quatro anos. “Tudo o que se coloca na rede é consumido rapidamente”, observa.
Estudo feito pela Ericsson estima que, em 2020, haverá 50 bilhões de conexões no mundo, sendo 5 bilhões na América Latina. Em 2015, a região já passará das atuais 500 milhões de conexões para 2 bilhões de acessos, quadruplicando o número em apenas cinco anos. De acordo com o mesmo levantamento, atualmente, uma pessoa de classe média com TV por assinatura, linhas fixas e móveis e banda larga consome, em média, um gigabyte por mês. Esse consumo vai explodir, passando, em 2015, para 40 Gb por família.
“As pessoas vão consumir mais capacidade à medida que a banda larga ficar mais rápida e as aplicações mais atraentes. A tecnologia começa devagar, mas quando pega, cresce aceleradamente. O tráfego hoje no Brasil registra 5 pentabytes mês. Em cinco anos, chegará a 80 pentabytes. Se não houver investimento em infraestrutura, será o caos”, alerta o vice-presidente de estratégia e marketing da Ericsson para América Latina, Lourenço Coelho.
Ele diz que as operadoras não têm reduzido investimentos. Ao contrário, as redes estão mais ou menos dimensionadas. Mas já há estrangulamento em vários pontos e o mais grave é que os investimentos pesados para a explosiva demanda futura, de dois a cinco anos, ainda não começaram. “A Copa do Mundo [2014] e a Olimpíada do Rio de Janeiro [2016] poderão ser uma surpresa.”
Além do crescimento do tráfego e da escassez de meios, as dificuldades de compra e venda de capacidade de rede no atacado complicam ainda mais o problema. A procura por serviços de banda larga cresceu tanto nas operadoras móveis quanto nas fixas, que não têm como atender a toda a demanda por meios de transmissão. As operadoras celulares reclamam dos altos custos e da demora para entrega de um circuito, muitas vezes superior a três meses.
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