Telecom para o sertão


A VNL (Vihaan Networks Ltd.) apresentou no Brasil uma antena para repetição de sinal GSM de baixo custo que tem revolucionado os mercados de telecom no sudeste asiático e na África. O CEO e fundador da empresa Rajiv Mehrotra se mostrou otimista quanto ao papel do país sul-americano nesta revolução. "Nós acreditamos que temos um ótimo conjunto de soluções que é ideal para os mercados da América Latina. A demanda por redes de alta velocidade de transmissão de dados não está atendida, e nós estamos aqui no momento certo". Segundo informações reveladas por representantes da empresa no país, cada unidade é capaz de repetir o sinal de voz e dados por um raio de 40 quilômetros e custa aproximadamente 30 mil reais, uma fração do valor das torres atuais.




Universalização da banda larga



A universalização da banda larga é um tema recorrente nas discussões sobre tecnologia. Segundo dados do Ibope/Nielsen, existiam no Brasil 67,9 milhões de internautas com mais de 16 anos em dezembro de 2009, notando-se um crescimento acelerado principalmente entre pessoas da classe C. Se compararmos este número com o de celulares em operação no país (191 milhões em setembro de 2010) vemos que existe um potencial enorme para crescimento.



O acesso à rede de transferência de dados torna possível uma transformação nas bases da sociedade. A conexão ao serviço de banda larga melhora a viabilidade da criação de sistemas de microcrédito, torna possível o acesso à educação de qualidade (e-learning) em áreas remotas e, como tem acontecido em outros países em desenvolvimento, possibilita o diagnóstico de saúde por médicos especialistas à distância, com o auxílio de técnicos em campo. É devido às novas soluções tecnológicas que se utilizam das redes e que se traduzem em benefícios para os usuários e também ao potencial de lucro para a indústria que existem muitas pessoas pensando em soluções para o assunto.



A solução para os "desconectados"



A empresa indiana VNL é um caso de sucesso ao criar uma solução tecnológica inovadora para atender aos "desconectados" - consumidores da "base da pirâmide". O fundador da empresa é o engenheiro eletrônico Rajiv Mehrotra, um veterano na indústria de telecom que foi pioneiro ao fabricar um sistema de recepção de TV por satélite de baixo custo em 1974. Sua invenção possibilitou o acesso a conteúdo de qualidade para milhões de indianos que estavam acostumados a assistir (se é que assistiam) apenas ao canal estatal. Esta inovação causou uma transformação cultural no país asiático e foi inspirado por esta revolução que Rajiv decidiu levar a frente o projeto de instalar sistemas de telefonia móvel em mais de 100.000 vilas em seu país. Fundada em 2004, a VNL tem a missão declarada de "levar a telecomunicação até a próxima fronteira, conectando os bilhões de desconectados do mundo".



Conversamos com Didio Loures, empresário que está apoiando a VNL no Brasil, e ele nos contou que na Índia existem subsídios governamentais para viabilizar o acesso às redes de celular em vilarejos distantes. Como quase não existe infra-estrutura nestas regiões remotas, o governo local oferece licenças de uso das bandas de transmissão (no Brasil este direito é reservado às operadoras) para comunidades ou operadores privados (microempresas locais) e financia a aquisição de equipamentos. Este conjunto de incentivos aliado à inexistência de impostos possibilita a utilização de comunicação de voz e dados ao custo médio de 2,5 dólares por usuário ao mês.



O Sistema



O equipamento propaga o sinal GSM e utiliza apenas a energia que é fornecida por placas de captação solar na base da plataforma. O kit é fornecido em caixas e pode ser facilmente transportado por meio de veículos simples (camionetes, barcos ou mesmo veículos de tração animal). O local de instalação também não é motivo de preocupação e frequentemente é o telhado de uma casa comum. O sistema de transmissão também não precisa de ar condicionado e nenhum tipo de gerador de energia elétrica.



Segundo a empresa, a torre pode ser instalada facilmente por 2 pessoas sem treinamento em um prazo de seis horas.



A situação brasileira



As operadoras de celular representam a maior oportunidade e a maior ameaça para o desenvolvimento deste mercado. Se por um lado elas podem se beneficiar dos baixos custos do equipamento para cobrir áreas com baixa densidade populacional e com alto risco financeiro, por outro são elas as detentoras do direito de explorar as bandas de sinal GSM e podem se opor à utilização por terceiros destas frequências em áreas geográficas que não queiram atender. Segundo Lores, a Anatel considera outorgar a licença para a utilização da banda GSM em espaços geográficos limitados, seguindo o exemplo do governo indiano.



Ponderando sobre a viabilidade da utilização do equipamento da VNL no Brasil, Lores explica que no caso da utilização da torre para propagação do sinal de dados, "não haveria necessidade de licenças para os provedores destes serviços" e sugere que "uma vez superada a questão regulatória seria possível oferecer para comunidades remotas ou de baixa renda acesso à telefonia celular de ultima geração bem como à Internet de banda larga de baixo custo", lembrando que ela está cada dia mais está se tornando uma "commodity".

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