Entenda como são feitas as escutas ambientais

Maria Angélica Oliveira


Do G1, em São Paulo

Secretário do DF autorizou polícia a colocar equipamentos em suas roupas.


Ele teria gravado encontro com governador do DF, José Roberto Arruda.

Broches, botões de roupa, joias, relógios, alianças, óculos, vasos, luminárias, canetas, telefones, pen drives e uma infinidade de acessórios pessoais e objetos são utilizados nas escutas ambientais, uma espécie de “grampo” que capta o som ambiente do local onde estiver instalado.


Foi por meio de equipamentos de escuta ambiental colocados nas roupas do secretário de Relações Institucionais do Distrito Federal, Durval Barbosa, que a Polícia Federal teria gravado um encontro dele com o governador José Roberto Arruda (DEM) durante as investigações da operação Caixa de Pandora, deflagrada nesta sexta-feira (27). Barbosa foi exonerado após a operação.

Conversa gravada e transmitida

Especialistas ouvidos pelo G1 explicam que há dois tipos principais de escutas ambientais. Uma transmite a conversa em tempo real para um outro ponto, instalado, por exemplo, em um andar embaixo de uma sala de reuniões ou para um agente que está em um carro estacionado em frente a um prédio, do outro lado da rua.

A escuta que faz a transmissão da conversa pode ser detectada mais facilmente, pois emite ondas que aparecem em aparelhos de varredura. Quanto mais sofisticado o aparelho, no entanto, é mais difícil filtrar a freqüência.

Otávio Luiz Artur, diretor do Instituto de Peritos em Tecnologias Digitais e Telecomunicações (IPDI), explica que esse tipo de "grampo" com transmissão é mais utilizado em casos de flagrante. “Geralmente, quando há necessidade de intervenção rápida para preservar a integridade da pessoa”, diz.

O outro tipo de escuta faz apenas a gravação do som ambiente. É preciso que o aparelho seja retirado do local para se ter acesso ao conteúdo gravado.


De forma geral, os equipamentos são acionados pelo som. Por isso, uma medida básica de “contraespionagem” é colocar um aparelho de som ligado constantemente no local onde se suspeita que possa haver uma escuta. Se houver um grampo ali, ele será acionado com a música e começará a gravar. O objetivo, nesse caso, é consumir a bateria do provável aparelho de escuta com sons pouco comprometedores.


Alianças, óculos e reuniões na piscina


Para driblar protocolos de segurança comuns em grandes empresas e governos, são utilizadas várias escutas ambientais ao mesmo tempo. Se uma revista barrar a caneta ou o celular que fariam as escutas, por exemplo, outros aparelhos farão o serviço.

“Você entra um dia à noite, coloca uma [escuta] na tomada, uma caneta na mesa do cara, manda um presente para ele, manda um bibelô para a secretária. (...) Tem transmissores em forma de anel. Ninguém tira a aliança do cara. Ele tira caneta, sapato, celular, cinto, mas não vai tirar a aliança. Já fizemos escuta em óculos. O cara [durante a revista] diz que precisa ficar com os óculos, que é míope”, conta Ricardo Romani, ex-funcionário de um órgão de informação do governo (ele não diz qual) que trocou o serviço público pela iniciativa privada.

A qualidade e alcance da gravação, dizem os especialistas, estão relacionados ao valor do equipamento. Na internet, é possível encontrar sites que vendem transmissores por menos de R$ 40. Além disso, no momento em que uma escuta é feita, entram em cenas outras variáveis, como quantidade de pessoas no local, distância de uma pessoa a outra, ruídos, chiados etc. Segundo Romani, ainda que o som captado esteja ruim, com softwares é possível melhorar a qualidade.


O ex-servidor, agora diretor de operação de uma empresa de gestão de riscos, trabalha atualmente para evitar que executivos sejam espionados. Ele conta que aprendeu um dos métodos mais eficazes de contra-espionagem com um político brasileiro. “Ele só fazia reuniões na praia. Chamava o cidadão e dizia assim: ‘O senhor gosta de banho de mar? Então, vamos entrar’ e aí conversava com a pessoa no mar, com a água na altura do pescoço”, diz.


Eficiência

O presidente do Sindicato dos Delegados de Polícia Federal de São Paulo, Amaury Portugal, afirma que as escutas ajudam, principalmente, a se verificar a extensão de uma rede criminosa. “Por ela ser tão eficiente é que antigamente se acusava a polícia de só fazer escutas”, diz.

Ele afirma que há uma orientação para que as escutas sejam utilizadas como um complemento da investigação, e não como ponto de partida. Antes da escuta, diz Portugal, é preciso reunir provas como depoimentos, apreensões, notas fiscais, desfalques de contas, por exemplo, para somente então pedir à Justiça a autorização para fazer o "grampo".

“Você não pode colocar uma escuta ambiental porque suspeitou de algo. Você instaura o inquérito, e para instaurar o inquérito precisa apresentar fatos, suspeitas. Aí [instaurado o inquérito], junta-se, no processo, alguma prova, algum indício. E aí o delegado explica ao juiz e pede [a autorização para realizar a escuta]”.



Fonte:   http://g1.globo.com/Noticias/Politica/0,,MUL1395496-5601,00-ENTENDA+COMO+SAO+FEITAS+AS+ESCUTAS+AMBIENTAIS.html





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