O celular entre a 2G e a 3G




No começo dos anos 1990, os problemas da primeira geração (1G) do celular eram muitos: elevado consumo de baterias, incompatibilidade de padrões entre as grandes regiões do mundo (Europa, Américas, Ásia) e consequentes dificuldades para o roaming internacional, capacidade de tráfego limitada, pouca flexibilidade para novos serviços e menor estabilidade do sinal. (Meu post: Há 30 anos nascia o celular 1G).
Durante duas décadas, anos 1970 e começo dos 1980, foram desenvolvidos diversos sistemas analógicos de telefonia móvel totalmente incompatíveis entre si na Europa. França, Itália, Inglaterra e países escandinavos tinham sistemas que não falavam entre si. Os franceses foram os primeiros a buscar uma solução para a dificuldade de integração e para a baixa conectividade dos sistemas que se implantavam no Reino Unido, na Escandinávia, na Itália e noutros países. Foi esse o ponto de partida para uma proposta ambiciosa, de um sistema digital de telefonia celular que pudesse ser adotado por toda a Comunidade Europeia.
As respostas foram várias e conflitantes. Por fim, a Europa optou pela padronização de um único sistema digital, que já vinha sendo desenvolvido na França e foi concluído com a participação da Alemanha e outros países,
Assim, por iniciativa do Centro Nacional de Estudos de Telecomunicações (CNET) da França, foram iniciados os trabalhos de desenvolvimento da tecnologia GSM, sigla derivada inicialmente do nome do grupo de estudos responsável pela pesquisa, o Group Special Mobile. Hoje a sigla GSM corresponde a Global System for Mobile Communications.
Dentro do espírito de integração da Europa 92, ganhou força a ideia de um padrão digital único avançado de telefonia celular, para todos os países europeus. A partir de então, o projeto GSM obteve o apoio e a adesão de outros países, como Alemanha, Suécia, Itália e países escandinavos.
A telefonia celular estava, assim, dando o salto para a segunda geração (2G), que se caracterizou pela passagem da tecnologia analógica à digital, para ganhar maior confiabilidade, melhor qualidade de voz, eficiência no uso do espectro; aparelhos celulares menores e mais baratos, melhor suporte de roaming (localização e conexão) internacional; ampla gama de outros serviços (voz, dados e muitos aplicativos).
Nos Estados Unidos, a primeira tecnologia digital de segunda geração (2G) adotada foi o TDMA (Time Division Multiple Access) que já era conhecido há muito tempo e que serviu de ponto de partida para o padrão GSM em desenvolvimento na Europa.
CDMA em cena
Uma terceira tecnologia de 2G ainda mais avançada  – o CDMA, sigla de Code Division Multiplex Access (Acesso Múltiplo por Divisão de Códigos) – passou a competir a partir de 1995, em escala internacional, com o GSM. O país que padronizou e mais apostou no CDMA foi a Coreia do Sul. Lá não houve espaço para outras tecnologias de segunda geração, como TDMA e GSM. E agora evolui a 3G com uma rapidez impressionante.
Um dos problemas que impediu a expansão do CDMA em segunda geração no mercado internacional foi sua incompatibilidade com o GSM.
Mesmo no Brasil, o CDMA foi adotado inicialmente pela Telesp Celular em 1996 e mantido por sua sucessora, a Vivo, durante vários anos, entre 1998 e 2005. A chegada do GSM no Brasil decorreu da opção pelas freqüências européias decidida no ano 2000 pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel).
O GSM ofereceu, de início, duas grandes vantagens em relação ao CDMA: menor preço dos aparelhos celulares e maior variedade de recursos, inclusive a imunidade à clonagem. E graças à sua escala de produção muito superior e aos custos menores, conseguiu alcançar expressiva expansão mundial, alcançando desde 2005 a fatia de 80% do mercado mundial.
3G é banda larga
O mundo tem vivido ao longo desta década a transição entre 2G e 3G. Essa evolução, no entanto, não termina com a 3G, é claro. Desde o começo de 2010, estão chegando os serviços LTE, (do inglês Long Term Evolution ou Evolução de Longo Prazo), com velocidades acima de 14,4 Mbps e que poderão chegar a 100 Mbts, patamar da quarta geração (4G), até 2015.
Pense um pouco, leitor, na versatilidade de seu celular. O celular hoje fala, faz fotos e filmes digitais, baixa música MP3 e vídeos do YouTube, toca alarmes, desperta, grava entrevistas, acessa a internet, envia e recebe e-mails, mensagens curtas ou torpedos (SMS, de Short Messages Services), sintoniza programas de rádio e de TV digital, acessa serviços bancários e de comércio eletrônico (e-comm ou m-comm, de mobile commerce), funciona como cartão de crédito, carteira eletrônica, dinheiro ou prontuário médio, entre outras funções e aplicações. É o verdadeiro canivete suíço das comunicações.
Mas, como as pessoas se acostumam logo com as inovações, não percebem quão revolucionário é o papel que a 3G pode ainda desempenhar no Brasil. Nem o próprio governo compreende que as redes wireless – com 3G, WiFi e WiMAX – poderão permitir a universalização da banda larga com muito maior rapidez do que as soluções a cabo (telefônico ou fibra óptica).
É nesse sentido que a oferta de banda larga em todas as cidades do País será uma alternativa extraordinária para a inclusão digital. A 3G deverá ter grande impacto no processo de democratização da banda larga e dos serviços de internet de alta velocidade. Algo semelhante ao papel que telefone pré-pago teve na universalização da telefonia.
Tudo isso explica a popularidade incrível do celular, entre crianças, jovens e adultos de todas as nacionalidades. No sul de Israel, vi dezenas de beduínos sobre camelos falando ao celular, às vezes, até entre companheiros separados por dezenas de metros.
Tudo isso explica também a velocidade de expansão do celular no Brasil, expandindo-se a mais de 20% ao ano, mesmo depois de quebrar a barreira dos 150 milhões de acessos em serviço. Além dessa atração exercida sobre o usuário, o Brasil foi beneficiado por uma conjugação de fatores positivos, como a chegada do GSM, aliada à privatização e à competição. Desse modo, a expansão da telefonia celular brasileira atinge níveis surpreendentes. Além dos benefícios da tecnologia, é preciso considerar também o impacto positivo do modelo de comercialização do celular pré-pago.
O grande sonho dos especialistas da  União Internacional de Telecomunicações (UIT), agência especializada das Nações Unidas para esse setor, desde os anos 1990, era a criação de um padrão tecnológico de terceira geração do celular (3G) que assegurasse compatibilidade mundial.
A 3G amplia e multiplica os recursos do celular, possibilitando a prestação de novos serviços de alta velocidade, de dados e multimídia. E mais importante ainda: com a 3G, consolida-se a internet móvel.
Além dessa compatibilidade mundial, o grande salto da terceira geração é o uso quase ilimitado da banda larga. Com esse avanço, as operadoras podem oferecer serviços mais rápidos de acesso à internet em banda larga, maior interatividade, melhores transmissões de vídeo e imagens, novos conteúdos, jogos sofisticados, serviços de localização GPS (Global Positioning Satellite) com triangulação de antenas, serviços de informação, rádio FM, câmera digitais de foto e de vídeo de alto padrão e serviços muito mais inteligentes.
As operadoras brasileiras já oferecem desde 2008  serviços com velocidade nominal de 3,6 megabits por segundo (Mbps). Até o final de 2011, haverá serviços ainda mais rápidos, de 7,2 Mbps.
Com o uso de memórias de 5 gigabytes ou mais, o celular pode armazenar milhares de fotos e músicas em MP3. Os aparelhos mais sofisticados chegam a captar um trecho de música, pesquisar na internet autor, intérprete, identificando a canção e baixando-a inteirinha, em nosso celular, em poucos segundos, por alguns centavos de euro.
Uso hoje um modem de 3G em meu laptop me assegura o acesso à internet nas maiores cidades do País a uma velocidade quase sempre acima de 1 megabit. Eis aí uma experiência valiosa para jornalistas, executivos, estudantes e outros profissionais que precisam acessar a internet a qualquer hora, em qualquer lugar.
Tecnicamente, esse serviço é chamado de Acesso por Pacotes de Download de Alta Velocidade (HSDPA ou High Speed Download Packet Access). Sua evolução já integra tanto o download quanto o upload numa só tecnologia, nascendo, assim o HSPA (simplesmente High Speed Packet Access).
O padrão mundial de 3G é chamado de Serviços Móveis de Telecomunicações Universais (UMTS, sigla de Universal Mobile Telecommunications Service), que usa a tecnologia WCDMA (Wideband Code Division Multiplex Access). Apenas a China terá uma variante desse padrão, o Time-Division-Synchronous CDMA (TD-SCDMA). Com a progressiva implantação desses padrões, desaparecerão as atuais incompatibilidades e disputas entre as tecnologias de segunda geração GSM e CDMA.
5 bilhões de celulares
O mundo quebrou no final de junho de 2010 a barreira dos 5 bilhões de celulares em serviço, segundo previsão da União Internacional de Telecomunicações (UIT) e cresce hoje à média impressionante de 1,5 milhão de novos celulares por dia. Ou de 548 milhões por ano. Hoje, 1 bilhão milhões de assinantes (ou 20% da base mundial) já são de terceira geração.
Nenhum outro meio de comunicação tem crescido com a rapidez do celular em escala mundial, pois, em 30 anos, ele alcançou a marca de 5 bilhões de acessos. A internet, em 20 anos, o computador, em 32 anos e a televisão, em 63 anos, estão alcançando os 2 bilhões.
O fenômeno da expansão da telefonia móvel na Europa pode ser avaliado pela densidade ou penetração do celular em diversos países da Europa. Na Alemanha, são 128 celulares por 100 habitantes. Na Espanha, 122. Na Escandinávia, 128. Na Grã-Bretanha, 139.  Em Portugal, 146. E na Itália, 178.
O Brasil deverá superar a densidade de 100% antes de novembro deste ano. E até dezembro, poderá quebrar a barreira dos 200 milhões de celulares em serviço. O sucesso representado pela expansão quantitativa não significa, absolutamente, que tudo vá às mil maravilhas. Três problemas básicos precisam ser resolvidos com urgência. Às operadoras cabe melhorar o padrão de atendimento dos usuários. Ao governo, desonerar as tarifas da brutal carga tributária (43%) e fortalecer o poder fiscalizador da Anatel.

Ethevaldo Siqueira

Nenhum comentário:

Postar um comentário