O que há por trás do acordo entre Nokia e Microsoft



E o Symbian caiu. O velho sistema operacional dos celulares Nokia está de saída. Será substituído pela versão móvel do Windows. No mínimo é uma jogada interessante.
A Nokia é boa de hardware. Fez, sempre, excelentes telefones, robustos, muitas vezes bem integrados a câmeras de boa qualidade. É também uma empresa de porte, um peso-pesado que sabe usar seu tamanho para impor contratos às operadoras de celular em todo o mundo. Não à toa, é líder inconteste em diversos países.
Aqui no Brasil, Nokia está por toda parte. Basta contar quantas vezes, todos os dias, ouvimos o “Nokia Tune”, a musiquinha símbolo de seus telefones que vai de toque padrão e que tanta gente não muda.
Symbian é motivo de piada entre ratos de celular. Arcaico, complicado, pouco funcional. Mas, houve o tempo, foi motivo de orgulho geek. Só iniciados, nos anos 1980, tinham as agendas eletrônicas Psion, que rodavam a primeira versão do sistema.
Mesmo em tempos mais recentes, antes dos smartphones, os Nokias eram boa escolha. Mudar de celular era um pesadelo, cada qual com seu sistema de menus complexo, todos os comandos escondidos por uma lógica heterodoxa. Não foi pouca gente que se manteve fiel à Nokia modelo após modelo apenas porque, neles, a navegação era ruim mas pelo menos mantinha-se constante. Aprendeu com um, continua tudo igual dali em diante.
E, com este tamanho todo, é inacreditável que a Nokia tenha ficado tanto para trás. Veio o Blackberry e nada. Vieram iPhone e Android, e o máximo que a Nokia fez foi demonstrar interesse pela plataforma MeeGo, de código aberto. É um sistema bonito. Mas ainda não conseguiram botar produtos com ele no mercado. A Nokia é lenta.
Na semana passada, o blog Engadget tornou público o memorando interno do CEO da Nokia, Stephen Elop. “O primeiro iPhone foi lançado em 2007 e ainda não temos qualquer produto que seja próximo dele. Inacreditável.”
De fato.
A carta foi enviada para tantas pessoas diferentes na Nokia que, ao que parece, Elop não estava muito preocupado em mantê-la secreta. Muita gente passou os dias seguintes ao vazamento tentando imaginar qual seria o passo seguinte. Havia quem considerasse que o sistema Android tinha chances. A Microsoft, no entanto, ofereceu dinheiro. Muito dinheiro.
Em 2010, a Nokia teve uma queda considerável. Tinha 35% do mercado global de celulares, terminou em 31%. No último trimestre do ano passado, na categoria smartphones, mais celulares com Android chegaram às lojas do que celulares com Symbian. A empresa finlandesa já queimou gordura, começa a cortar na carne. Mas, para a empresa de Bill Gates, o negócio faz sentido.
Num mundo em que Apple e Google disputam os holofotes e a turma da RIM, com seu Blackberry, ainda se mantém nas mãos de executivos, ao Windows Phone 7 não basta ser bonito. É preciso estar presente em tantos pontos de venda quanto possível.
E, neste mundo de celulares, ninguém tem tanto tamanho quanto a Nokia. Esse tamanho ainda lhe garante uma superpresença nas lojas e uma certa preferência das operadoras de telefonia móvel.
O jogo dos smartphones caminha para os aplicativos. É por isso que volume se torna importante. Aquele aplicativo bacana que todo mundo tem roda no seu celular? Se for um iPhone, provavelmente sim. E isso começa a ser verdade também para Android. A RIM está pagando para que os desenvolvedores de apps populares façam versões para o Blackberry.
Se, em um ano ou pouco mais, tudo quanto é smartphone Nokia rodar Windows Phone 7, haverá tanta gente na rua com o sistema da Microsoft que aplicativos começarão a surgir. É neste jogo que os americanos estão apostando.
Para a Nokia, cujas ações despencaram após o anúncio, a situação é menos confortável. Eles perderam a corrida. Dominaram a segunda geração de celulares com sua tecnologia GSM, perderam no salto para a terceira.
Começamos 2010 com seis sistemas disputando espaço entre smartphones. O WebOS da Palm, agora nas mãos da HP, parece que será usado apenas para tablets. Agora o Symbian deixa o palco. Sobraram quatro, e a Microsoft ganhou um empurrão. Há espaço para tantos? Ou morrerá mais um?

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