Novos rumos. Para aumentar a receita com pacotes de internet, empresas de celular lançam serviços próprios de música, vídeos e até de aplicativos de mensagens; temor é que crescimento de smartphones leve a queda na renda tradicional
Limitados à própria base de clientes das operadoras, esses serviços têm a intenção de ajudar os novos donos de smartphones a descobrir o mundo dos aplicativos e de incentivá-los a usar - e a depender - cada vez mais dos planos de internet.
Isso porque a era da mobilidade tornou mais importante o fornecedor da tecnologia do que as operadoras de celular. Com um mercado de aplicativos aquecido, as empresas de telefonia ganharam novos concorrentes, como Apple, Google e Amazon, e viram uma queda na receita com serviços importantes, como o de mensagem de texto (SMS). Em 2012, a perda global foi de US$ 23 bilhões. Os mercados mais afetados foram a Europa e a Ásia. "Hoje as operadoras são apenas mais um componente do mercado de telefonia", diz a analista da consultoria Gartner, Elia San Miguel.
Com esse cenário, ficou claro para as empresas de telefonia móvel que a fonte de receita no futuro será a venda de serviços de internet. "O usuário só vai comprar um pacote de dados para ter acesso ao aplicativo que ele deseja. Por isso, as operadoras começaram a oferecer seus próprios sistemas", diz Eduardo Tude, da consultoria Teleco.
Um relatório da empresa mostra que a receita das operadoras brasileiras com serviços que não são de ligações (por exemplo, internet e TV) cresceu 16% em 2012 e deve superar a de serviços de voz (ligações) nos próximos anos. "Com certeza em cinco anos teremos como principal ponto de receita na operadora a parte de dados", diz o diretor de serviços da Claro, Alexandre Olivari.
Assim como as demais operadoras, a Claro tem sua própria loja de aplicativos. Entre os destaques recentes estão programas de música, livros e versões que adotam o modelo freemium (uso gratuito e opções extras pagas). "Na maioria dos casos trabalhamos com uma assinatura semanal para facilitar a adesão dos usuários dos planos pré-pagos", diz Olivari.
A principal aposta, no entanto, é no app de mensagens Joyn (mais informações abaixo), popular na Europa. Com ele, a Claro espera aumentar a participação da venda de conteúdo e entretenimento no faturamento total da empresa, hoje em 12%.
Na Oi, a receita de dados móveis e serviços cresceu 60% no segundo trimestre deste ano em relação ao ano anterior. A empresa tem aplicativos de música, mapas e, entre outros, lançou recentemente o Oi Bookstore, um aplicativo que permite aos clientes da empresa ler livros no tablet, no celular ou no computador.
A maioria dos sistemas da operadora tem versões para a web ou para uso por SMS, para atender a parcela de clientes que ainda não tem smartphone, já que, ao contrário da Europa, a receita com SMS continua crescendo. "Nós criamos um sistema para acompanhar o cliente. Toda a nossa plataforma móvel de ensino, por exemplo, funciona por SMS, aplicativos e pela internet. Dessa forma, à medida que o cliente migra para os smartphones, conseguimos acompanhá-lo", diz o diretor de mobilidade e varejo da empresa, Roberto Guenzburger.
Uma pesquisa da consultoria Ovum mostra que o uso das mensagens de texto cai em média 40% quando uma pessoa compra um smartphone.
Desoneração. A julgar pelos dados internacionais, o reinado do SMS no Brasil pode ser ameaçado em breve com o crescimento da adoção de smartphones, incentivada pela recente desoneração do governo federal para aparelhos de até R$ 1,5 mil, que deixam de pagar impostos PIS e Cofins (9,25%). Em vigor desde abril, a medida teve efeito imediato: no segundo trimestre as vendas de smartphones superaram pela primeira vez a de telefones tradicionais. Segundo a consultoria IDC, foram vendidas 8,3 milhões de unidades, uma alta de 110%. Até 2015, os smartphones serão a maioria dos aparelhos em uso.
Para ter direito à desoneração, as fabricantes precisam ainda garantir que esses aparelhos tenham uma cota mínima de aplicativos nacionais pré-instalados, o que pode gerar parcerias entre operadoras e fabricantes. A obrigação vale a partir de 10 de outubro, com a obrigatoriedade de cinco aplicativos. O número vai aumentar gradualmente ao longo do próximo ano e chegará a 50 aplicativos nacionais em dezembro de 2014.
Além de o uso de SMS continuar em alta no País, cerca de 80% dos planos de telefonia ainda são pré-pagos. Pensando nesse consumidor, a estratégia da TIM é reduzir as barreiras de acesso a serviços . No início do ano, por exemplo, a empresa lançou um aplicativo de música chamado TIMmusic. "O formato de tarifação é muito diferenciado, sem uma assinatura recorrente. Além disso, a cobrança é descontada dos créditos do cliente. Assim, eliminamos outra barreira para o acesso legalizado à música no celular, que é a necessidade de um cartão de crédito para cobrança do serviço", diz Fabio Cristilli, diretor de internet, serviço de valor adicionado e handsets da TIM.
A loja de aplicativos da empresa, a TIM App Shop, registrou mais de 2 milhões de downloads nos últimos dois meses. No segundo trimestre de 2013, a receita bruta da empresa com serviços de valor adicionado, como os aplicativos e SMS, foi de R$ 1,3 bilhão, um crescimento de 25% em relação ao ano passado. "O serviço de dados móveis é o futuro do mercado de telefonia e os aplicativos estão nesse contexto", diz Cristilli.
Já a Vivo aposta na isenção de cobrança do tráfego para uso de grande parte dos aplicativos e na segurança para atrair mais usuários. "Quando você usa o WhatsApp vai ligar para quem se tiver algum problema? Hoje todo mundo está preocupado com a privacidade nesses aplicativos. Nós garantimos total segurança", diz Alexandre Fernandes, diretor de inovação e desenvolvimento de produtos e serviços da empresa.
Segundo ele, a Vivo caminha para se tornar cada vez mais uma plataforma de serviços digitais. "Queremos ser muito mais do que apenas fornecedora de conexão de acesso a serviços de dados e voz. Queremos preencher um espaço porque, se não fizermos nada, alguém vai fazer", diz . "Para nós a receita com SMS não está caindo, está migrando."
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