*CONFECOM: Ditadura da liderança dos movimentos sociais sobre sua base*
Heitor Reis (*)
Durante o processo da revolução russa, não ocorreu a prometida ditadura do
proletariado, que é a única democracia possível. Deixando de lado os ideais
preconizados anteriormente, para a transformação, o que aconteceu, de fato,
foi a ditadura dos líderes sobre o proletariado. [ “Ditadura do
proletariado, a única democracia possível”:
http://www.midiaindependente.org/pt/red/2008/10/432128.shtml ]
Esta história vem se repetindo em outros países, o que não foi diferente no
processo da Conferência Nacional de Comunicação (Confecom).
Primeiro, os representantes dos movimentos sociais nacionais desconsideraram
a decisão das Comissões Estaduais, que, em sua maioria, recusaram a proposta
do governo e dos empresários, de dar a estes 40 % dos delegados e 60 % de
votos para aprovação de temas sensíveis, os quais os capitalistas da mídia
podem escolher ao seu bel prazer.
Alegam "nossos melhores quadros" que o governo impôs-lhes tal critério, na
base do "ou é do nosso jeito, ou não tem Confecom". Tudo é feito para
agradar aos empresários da comunicação, sem qualquer limite na submissão da
liderança dos movimentos sociais aos interesses dos petistas, os quais
também dominam a representação dos movimentos sociais. Tudo que eles querem,
é encher o caixa de campanha da Dilma, agradando seus financiadores, para os
quais trabalha o inconstitucional e impune oligopólio da mídia.
Ontem (14/12), mais uma vez, as entidades dos movimentos sociais que
participam da Comissão Organizadora Nacional (CON) traíram novamente aos
interesses de suas bases, aceitando que o limite de 60 % para temas
sensíveis fosse também aplicado aos Grupos de Trabalho (GT), coisa que não
estava combinado anteriormente.
Minutos antes da abertura do evento, a ABRA - Associação Brasileira de
Radiodifusores, solicitou uma reunião para dizer que, se os movimentos
sociais não aceitassem esta condição, deixariam a Confecom, como seus 200
delegados, como a Rede Globo já o fez, meses atrás.
Acreditando ser importante manter estes empresários para legitimar a
Confecom, entidades como a Fenaj - Federação Nacional dos Jornalistas,
ABCCom - Associação Brasileira de Canais Comunitários a Cabo e ABEPEC*
- *Associação
Brasileira das Emissoras Públicas, Educativas e Culturais* v*otaram no
sentido de aceitar a exigência dos capitalistas.
À noite, quando foram prestar contas de sua decisão aos delegados dos
movimentos sociais presentes à Confecom, constatou-se o abismo existente
entre eles e a cúpula.
Enquanto os que conduziam a plenária faziam de tudo para impor sua tese, em
sua quase totalidade, defendiam que sua liderança havia extrapolado os
limites do bom senso e teriam de voltar atrás na decisão que tomaram. Neste
processo, uns 300 delegados vaiaram solenemente as entidades que
contribuíram para este estrago, chamando-as insistentemente de pelegas,
termo destinado para quem procura amaciar a relação entre classes, buscando
a conciliação ao invés da luta.
Mesmo após tamanha manifestação, as lideranças ainda fizeram de tudo para
adiar a votação das propostas, literalmente, empurrando-a com a barriga,
noite adentro e tendendo para a madrugada, quando não haveria mais ônibus
para voltar ao hotel. Após a plenária insistir várias vezes gritando “vota,
vota, vota”, os condutores do encontro se viram obrigados a respeitar a
vontade dos presentes. Assim, ficou decidido que a liderança deveria
procurar os empresários e desfazer a decisão anterior, sabendo-se, de
antemão, que se estaria correndo o risco da ABRA abandonar o evento.
Encontrando com um diretor da Fenaj, com o qual convivo eventualmente, em
Belo Horizonte, comentei o fato, obtendo como resposta que sempre houve esta
diferença entre as posições das lideranças e das bases. Retruquei que, numa
ditadura, sempre é assim, o que jamais deveria ocorrer num ambiente
verdadeiramente democrático.
Hoje, na plenária em que se discutia o regimento da Confecom, a base votou
contra temas sensíveis nos GT, derrubando a decisão dos ditadores do
movimento social.
Foi um momento pequeno, porém simbólico de que esta dominação, um dia,
poderá mudar. Assim, a base do movimento social, independente da conciliação
de classe defendida por seus “legítimos” representantes, espera que, na
plenária final, derrubará o critério de tema sensível e mantido a
tradicional a aprovação com apenas uma maioria simples.
ABAIXO A DITADURA DOS LÍDERES SOBRE O PROLETARIADO!
*(*) Heitor Reis é um subversivo, indivíduo perigoso do ponto de vista dos
milicos, de Gilmar Mendes e de qualquer um que esteja satisfeito com o atual
sistema político, econômico e social. Artigos no Observatório da Imprensa:
http://www.observatoriodaimprensa.com.br/lista_autor.asp?cod=532JDB002&a_ano=2009&a_mes=11
Nenhum direito autoral reservado: Esquerdos autorais ("Copyleft") Contatos:
(31) 9208 2261 - heitorreis@gmail.com*
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