O Brasil tem a segunda tarifa de telefonia celular mais alta do mundo,
segundo estudo da consultoria europeia Bernstein Research, abrangendo
17 países, dos quais 6 desenvolvidos e 11 emergentes. O preço não se
deve apenas à elevada tributação dos serviços de telefonia móvel (42%,
contra a média de 17%, no mundo), mas à fixação de preços exorbitantes
por serviços que os clientes têm de utilizar, sobretudo a interconexão
com outros aparelhos fixos ou móveis.
Os usuários de celulares no Brasil pagam, em média, US$ 0,24 o minuto,
abaixo dos US$ 0,26 da África do Sul e levemente acima dos US$ 0,23 do
terceiro colocado no ranking de tarifas mais elevadas, a Nigéria. Na
Índia, esse custo é de apenas 1 centavo de dólar o minuto, na Indonésia
e na China, de 3 centavos de dólar e na Rússia, no Egito e no México,
da ordem de 5 centavos.
Com 173,9 milhões de celulares em
operação - o que corresponde a 9 celulares para cada 10 habitantes, em
média - e um dos 5 países com mais celulares no mundo, não é a falta de
escala que explica o elevado custo dos serviços no Brasil.
A
analista sênior Robin Bienenstock, da Bernstein Research, enfatiza o
peso da taxa de interconexão, conhecida como Valor de Uso Móvel (VUM).
É a tarifa que uma operadora paga a outra pelo uso de redes
telefônicas. Entre janeiro e setembro de 2009, 24% da receita da
operadora Vivo veio da interconexão. Na Oi, esse porcentual foi ainda
maior (27%), enquanto a Claro não divulgou a informação e a TIM auferiu
1,7% da receita com a interconexão. Um diretor da Oi declarou que chega
a 35% o porcentual da receita mensal que se origina das tarifas de
interconexão, número confirmado por um vice-presidente da Vivo. Já na
União Europeia, segundo a analista, alguns países estão perto de
eliminar a taxa de interconexão, para incentivar a telefonia celular.
Esse custo também foi reduzido em países latino-americanos - no Chile,
metade do ônus foi cortado.
Em média, o brasileiro paga R$ 0,45
o minuto em chamadas locais para telefones celulares da mesma
operadora, mas o preço passa de R$ 1,00 quando o número chamado é de
uma empresa concorrente. A concessionária GVT chegou a entrar na
Justiça contra a VUM, reivindicando redução de 50% da tarifa. Ela
também recorreu à Secretaria de Direito Econômico, pedindo uma
auditoria no modelo de custo das interconexões no País.
Para
fugir das tarifas altas, 82% dos clientes da telefonia móvel optaram
por planos pré-pagos, em que o celular é usado preferencialmente para
receber chamadas - e nesse caso o custo é transferido para quem faz as
ligações. Com o uso maciço do sistema pré-pago, o País ocupa, segundo a
União Internacional de Telecomunicações (UIT), uma das cinco piores
classificações no mundo em tráfego de voz via celular. Ou seja, muitos
têm telefones, mas evitam usá-los.
Alguns clientes preferem
interromper as chamadas recebidas de celular para celular e
respondê-las por intermédio de um aparelho fixo. Quando isto ocorre, a
operadora de telefonia fixa paga a interconexão, cerca de R$ 0,40 o
minuto.
A receita proveniente da interconexão é um dos fatores
que aceleram o ciclo de investimentos em redes móveis, de dois a três
anos apenas, muito mais rápido do que nas redes fixas, segundo um
vice-presidente da Vivo, Elcio Zilli.
Uma redução das tarifas de
interconexão não provocaria queda dos investimentos das operadoras de
telefonia celular no Brasil, avalia a Bernstein Research, pois o
mercado brasileiro ainda tem espaço para se expandir, ao contrário dos
mercados dos países desenvolvidos, que estão saturados.
Na
Europa, a recomendação dos órgãos comunitários é reduzir as tarifas de
interconexão a um patamar entre 1 e 3 centavos de euro, até 2012. No
Brasil, a redução da tarifa de interconexão depende da Anatel. A Anatel
informa que contratou uma consultoria para definir o modelo de custos,
mas o prazo para o término do trabalho é de 18 meses.
Protelar a decisão de reduzir a tarifa de interconexão significa onerar os consumidores de um serviço já muito caro.
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