Empresas de telefonia móvel brigam para que os sistemas operacionais dos celulares sejam compatíveis entre si. O alvo: o bilionário mercado dos aplicativos.
Por Tatiana Bautzer, enviada especial a Barcelona
No maior evento de telefonia móvel do mundo, o Mobile World
Congress, realizado na semana passada em Barcelona, operadoras,
fabricantes e empresas de software travaram longas discussões a respeito
de duas questões ainda longe de um final feliz: a necessidade de tornar
os sistemas operacionais compatíveis, o que reduziria custos e
otimizaria o trabalho de operadoras e desenvolvedores de softwares, e o
equilíbrio na relação comercial na área de desenvolvimento dos
aplicativos que rodam nesses equipamentos.
O assunto está no radar do setor há algum tempo, mas ganhou novos
contornos nos últimos meses, em razão do crescimento vertiginoso do
mercado de smartphones e tablets. Para dar uma ideia, espera-se que o
uso de internet móvel de alta velocidade suba de 1,8 bilhão para cinco
bilhões de assinantes, segundo o CEO da Ericsson, Hans Vestberg.
Steve Ballmer, da Microsoft: sistema operacional da companhia ainda não emplacou nos smartphones
Para dar conta dessa demanda com agilidade e a um custo considerado
satisfatório, os desenvolvedores e, principalmente, as operadoras
querem que os sistemas operacionais conversem entre si.
Mais: de preferência, que sejam abertos, livres para que qualquer
desenvolvedor faça ajustes para melhorar o produto. Assim,
diferentemente do que acontece hoje, não haveria a necessidade de serem
criados aplicativos específicos para cada plataforma, como Apple,
Google, Research In Motion (RIM) e Microsoft, por exemplo.
Stephen Elop, da Nokia: fabricante tenta ganhar mercado com parceria com a Microsoft
As empresas de telefonia móvel também querem se livrar da
dependência das lojas de aplicativos do Google e da Apple, pois, nesses
canais de venda, elas não participam da receita gerada com conteúdos.
A aposta das operadoras para reverter esse jogo se chama
Wholesale Applications Community (WAC, ou Comunidade Atacadista de
Aplicativos). A iniciativa foi criada há um ano, mas seu lançamento
comercial foi feito durante o Mobile World Congress de 2011.
Mercado: líderes das empresas de mobilidade se reuniram no Mobile World Congress
O objetivo da comunidade é estimular a criação de lojas de
aplicativos pelas próprias operadoras. Competidores importantes do setor
já abraçaram a ideia. Durante o congresso, oito grandes operadoras,
entre elas China Mobile, Telefonica, Verizon e Vodafone, além dos
fabricantes Ericsson e Samsung, anunciaram a adesão ao WAC.
A indústria espera que essa seja uma solução também para a
incompatibilidade de sistemas operacionais. “No futuro, todos os
aplicativos serão compatíveis com o sistema WAC, mas isso ainda vai
demorar”, afirma Eric Schmidt, CEO do Google.
As operadoras, por sua vez, não querem saber de demora. “Os
fabricantes só desenvolvem aplicativos para seus respectivos celulares. É
muito difícil construir uma loja de aplicativos que inclua produtos
para todos os tipos de sistemas operacionais”, diz Wang Jianzhou, CEO da
China Mobile, a maior operadora móvel do mundo.“Mas estamos aqui para
defender a abertura do setor.”
Eric Schmidt, do Google: o sistema da empresa, o Android, é um dos alvos de nova investida das operadoras
A investida das operadoras se dá em meio a uma guerra de sistemas
operacionais. Nesse campo, os protagonistas são Apple, com o seu iOS,
utilizado no iPhone, a RIM, com o BlackBerry, e o Google, com o Android.
Pelas beiradas, a Microsoft, que acaba de fechar parceria com a Nokia
para a utilização de seu sistema Windows Phone 7, tenta ampliar o seu
espaço.
Ainda é difícil saber quais serão os próximos desdobramentos no
acirrado mercado de mobilidade, mas de uma coisa os representantes do
setor não duvidam: o futuro da internet é móvel e esse jogo está apenas
no começo.
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